segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Vamos Falar de Depressão - Parte II


Dados importantes.


A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2010) define a Depressão como um transtorno mental comum que pode tornar-se crônico ou recorrente, prejudicando consideravelmente a capacidade do indivíduo de lidar com a vida diária, podendo ainda, em sua forma mais grave, levar ao suicídio. Ainda conforme a instituição estima-se que até o ano de 2020 a doença passará do quarto lugar, como principal contribuinte para a carga global de doenças, para a posição de segundo lugar, sendo que, já ocupa a liderança como principal causa de anos vividos com incapacidade.
Em 2005 estimava-se um valor maior do que 340 milhões de pessoas como sendo portadoras de algum estado depressivo em todo mundo, sendo que 75% delas não recebiam qualquer tipo de tratamento (WMFH, 2005). Dados recentes publicados pelo IBGE (2010) revelam que dos 59,9 milhões brasileiros entrevistados, que foram identificados como portadores de doenças crônicas, por algum profissional da saúde, 4,1% declararam-se portadores de depressão.
As classificações da doença depressiva no grupo dos transtornos afetivos têm por base o quadro clássico de estado depressivo quanto à intensidade apresentada, à sua evolução e duração, assim como também à associação cíclica de humor exacerbado.
Didaticamente, classificam-se esses transtornos do humor como depressões típicas e atípicas. As primeiras se apresentam através dos episódios depressivos, enquanto as depressões atípicas são aquelas que se manifestam predominantemente com sintomas somáticos (físicos) ou de ansiedade (CAJAZEIRAS, 2010).
Baseado na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 10), as depressões podem ser classificadas como: 1) episódios depressivos – em que não se encontra história pregressa, ou seja, que estejam se manifestando pela primeira vez; 2) Transtorno depressivo recorrente: de caráter repetitivo, mas sem antecedentes de mania; 3) Transtorno afetivo bipolar – pacientes variam do estado depressivo para o estado maníaco; 4) Transtorno persistente do humor – sintomas se mantêm por um longo período de tempo comumente de forma flutuante.
Os episódios atípicos envolvem estados de: 1) Ansiedade e depressão e 2) Depressão e transtornos somáticos; e ainda temos estados depressivos relacionados a outras patologias.
Conforme análise de Del Porto (1999) enquanto sintoma, a depressão pode ter a sua gênese em quadros clínicos diversos – alcoolismo, demência, doenças clínicas, estresse pós-traumático, esquizofrenia e ainda como resposta a situações estressantes; enquanto síndrome, o estado depressivo pode incluir além de alterações do humor – apatia, falta da capacidade de sentir prazer, irritabilidade – e uma gama de outros aspectos que incluem alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas; enquanto doença, a depressão tem sido classificada de várias formas, na dependência do período histórico, da preferência dos autores e do ponto de vista adotado.
fonte: google imagens.
Além do humor deprimido (ou maníaco), a manifestação de determinados fenômenos tais como alterações no sono, alterações no apetite, agitação ou retardo psicomotor, fadiga, culpa excessiva, pensamentos de morte, ideação suicida, tentativa de suicido, etc., definem o quadro nas suas subdivisões em transtornos depressivos, transtornos bipolares e outros transtornos do humor.
O desenvolvimento dos antidepressivos tricíclicos (ADT) deu início ao tratamento farmacológico e a partir daí surgiram explicações através de hipóteses biológicas, dentre elas sobressaem: a bioquímica, a que implica alterações ao nível dos receptores e a que envolve o sistema imunológico (FUENTES, 2000 citado por SILVA, 2006).
Silva (2006) relata a hipótese monoaminérgica ou bioquímica defendendo que a partir dos mecanismos de ação dos ADT há um aumento na disponibilidade sináptica dessas monoaminas que voltam ao normal em certas áreas do cérebro, revelando que os neurotransmissores (noradrenalina e serotononia) podem estar diminuídos nas sinapses em locais específicos durante um episódio depressivo.
A hipótese sobre alterações de receptores defende que a deficiência das monoaminas explica-se pela hipersensibilidade dos receptores monoaminérgicos, na qual, por mecanismo de feedback, diminuiria a síntese e liberação dos neurotransmissores. Desta forma, o estado depressivo poderia resultar de uma disfunção do número e da sensibilidade dos receptores, provavelmente por determinação genética. Avanços na biologia molecular demonstram alterações nos processos intracelulares de neurônios pós-sinápticos, após administração crônica de antidepressivos.
O cérebro pode afetar o sistema imunológico através dos neurotransmissores e da ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, por outro lado, o sistema imune é capaz de produzir substâncias e células que podem alterar a função de neurotransmissores, modificando a função endócrina. Dentre essas substâncias encontram-se as citocinas, que são fatores de comunicação entre células imunes e outras célula periféricas, e acredita-se que quando liberadas contribuem para alta taxa de transtorno de humor nos pacientes com outras doenças.
A necessidade de uma abordagem multidisciplinar é necessária e se justifica  pois existem diferentes aspectos relacionados com a saúde integral do ser humano. Segundo Cajazeiras (2010) é sabido que no processo de desencadeamento das causas de origem mista, diferentes fatores devem ser considerados, dentre eles: fatores biológicos, psicossociais e socioculturais, influenciando na gênese e, além disso, ressalta a introdução do fator espiritual como fator primário.



Referências Bibliográficas
  • CAJAZEIRAS, F. A. C. Depressão – Doença da Alma: As causas espirituais da depressão, Capivari/SP: EME, 2010.
  • DEL PORTO, J. A.; LARANJEIRAS, R. R.; MASUR, J. Escalas de Auto-avaliação de Estados Subjetivos: Influência das Instruções. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, n. 32, p. 87-90, 1983. 207p.
  • IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008 - Um Panorama da Saúde no Brasil, 2010, disponível em:<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_impressaophp?id_noticia=1580>. Acesso em 19 ago. 2010.
  • SILVA, P. Farmacologia, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 7ª ed., 2006, 1398p.
  • WHO - World Health Organization, disponível em: <http://www.who.int/topics/depression/en/>. Acesso em 19 de ago. 2010.
  • WFMH – World Federation for Mental Health, 2005 – Depression: The Painful Truth, disponível em: <http://www.breaking-through-barriers.com/po/survey.pdf>. Acesso em 19 ago. 2010.


*** Autor: Jeferson O. Salvi