quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Vamos Falar de Depressão ? - Parte V



O Lado Bom da Depressão ?

Dando continuidade ao assunto, o propósito deste artigo é o de fazer uma breve análise sobre o que avaliamos até agora.
O próprio tema (Depressão) exige que tenhamos cautela e façamos uma pausa para que  seja feita uma breve análise, principalmente porque se trata de algo delicado para aqueles aptos a desenvolverem ou puxarem o gatilho que leva ao estado depressivo.
Dentre as variadas e inúmeras literaturas disponíveis, gostaria de compartilhar um breve resumo de um artigo publicado na edição 212 da Revista Mente e Cérebro (2010)*. A capa chama a atenção: “O lado bom da Depressão”, logo de início podemos nos perguntar: existe um lado bom? Claro que se considerarmos o estado depressivo como uma patologia sem cura ou uma cruz a se carregar, a resposta é óbvia.
Os autores ressaltam a depressão como uma resposta do corpo humano para adaptar-se e proporcionar melhores condições na resolução de problemas. Tal capacidade foi preservada ao longo da evolução sendo o rebaixamento do humor a expressão desta adaptação. Esta hipótese baseia-se na composição química do cérebro, em específico o receptor 5-HT aonde se liga a uma substância chamada serotonina diretamente ligada ao processo depressivo. Testes em cobaias determinaram que aquelas desprovidas deste receptor apresentaram menos sintomas depressivos, enfatizando que a preservação da molécula é de tão importância que a seleção natural tratou de conservá-la ao longo dos milênios.
Alguns pontos importantes explicam e nos levam a compreender os possíveis sinais ou sintomas apresentados por alguém deprimido:
·    O isolamento ajuda o deprimido a evitar situações que o levariam a pensar em outros assuntos;
·   A incapacidade de obter prazer com sexo ou em outras atividades evita o envolvimento com o que tiraria o foco do problema;
·    A falta ou a perda do apetite também tem o objetivo de livrá-lo da distração para que ele se concentre no que realmente incomoda.
Afirmam ainda que as terapias mais eficientes sejam as que incentivam os pacientes a observarem a essência dos próprios pensamentos para que desta forma encontrem as soluções para os seus problemas.
Entender o que passa na mente de alguém com Depressão certamente é tão difícil quanto conviver e tentar ajudar, todavia, relembro o que foi discutido no primeiro artigo publicado neste blog e compartilho a ideia desta revista: sim existe um lado bom!
Na depressão a mente se torna mais analítica e concentrada, apesar do sofrimento e da incapacitação momentânea que podem interferir.
O mais importante é o auto-reconhecimento de que algo está diferente, não propriamente errado.
Não há com que se envergonhar! Hoje em dia não conversar com alguém capacitado para isto ou não buscar a informação, é meramente ignorância ou desleixo. Sim! Porque são muitos os que se escondem atrás de doenças buscando a atenção que julgam serem dignos, mas não encontram.
O que mais ouço durante as avaliações, apor aqueles que acompanham pacientes em estados depressivos, na maioria das vezes “em off ”, é que eles já não aguentam ou estão prestes a se tornarem depressivos também! Ou seja, a consciência de que o coletivo ou mais pessoas possam sofrer junto, quando não expressada, além de carência afetiva expressa o egoísmo dando suporte.
Sentir-se deprimido, por tanto, deveria estimular a auto-reflexão de que os sentimentos existem e de que existe uma reação à aquilo ou ao conjunto daquilo que ocasionou o estado depressivo. 
O objetivo é buscar soluções para enfrentar o problema sem camuflá-lo.
A filosofia chinesa em relação aos sentimentos, a qualquer que seja, em síntese determina: sinta-os mais os deixe partir! Ou seja, se estou triste devo chorar, devo reconhecer que sou sensível como qualquer outra pessoa (e às vezes por muito menos) e deixar a tristeza ir embora! Com a felicidade é a mesma coisa! Quem nunca se incomodou com aquela pessoa que expressa felicidade excessiva? Si recebo uma notícia boa hoje, ótimo! Comemoro, mas amanhã não preciso continuar comemorando, apenas interiorizo esta felicidade e me ponho disponível ao que venha acontecer futuramente, vivendo o presente. Não preso ao passado nem ao futuro.
Namastê!


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
  • Andrews, P. W. and Thonson, J. A., Revista Mente e Cérebro nº212, 2010. 

*Segue o link da revista, caso alguém tenha interesse em adquirir: (https://www.lojaduetto.com.br/produtos/?idproduto=1608&action=info)